Uma grande rede de apoio. Foi o que se viu por quem passava pelo Beco da Música, no centro do Rio, durante a Semana Nacional do Registro Civil. Centenas de pessoas chegando, se enfileirando em um só propósito: garantir seus direitos. Homem, mulher, jovens, com crianças pequenas e até com seus pets companheiros de andanças pelas ruas.
“Um marco”. Assim resumiu a presidente da Arpen/RJ, Alessandra Lapoente, sobre o significado daqueles dias de muito trabalho, dedicação, correria, muitas vezes sem pausa para ir ao banheiro ou beber água. A urgência de quem estava ali e finalmente ia conseguir atendimento e sair com a certidão de nascimento em mãos era tão maior, tão improrrogável que quem estava ali para atendê-los não se sentia no direito de deixá-los esperando, como se diz por aí, “por nada nesse mundo”.
Cerca de 10 registradores, entre elas a presidente da Arpen/RJ – Associação de Registradores de Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro atuaram durante quatro dias no front, solicitando certidões de cartórios de outros estados através da CRC Nacional, a Central do Registro Civil.
Entre os órgãos que fizeram parte do mutirão de cidadania estiveram a Defensoria Pública, Ministério Público, Detran/RJ e a Prefeitura do Rio de Janeiro, além da Arpen/RJ. No evento, as pessoas puderam fazer a segunda via da Certidão de Nascimento, Casamento, Óbito, RG, CPF, Certificado de Reservista, Título de Eleitor, Cadastro Único, CNIS. Além da documentação, a população também pode colocar o calendário vacinal em dia em um posto de vacina da Prefeitura. Aos moradores de rua e hipossuficientes foram oferecidos serviços de corte de cabelo, de barba e banho, além de alimentação.
Para mostrar a importância deste ato, iniciativa do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luiz Felipe Salomão, também presidente da Corregedoria Nacional de Justiça, nada pode ser melhor que ler as próprias palavras de quem conseguiu garantir esse direito tão essencial para a vida.
Confira alguns depoimentos:
Maria de Fátima da Silva – sem certidão de nascimento há mais de 20 anos
“Hoje eu arrumei uma pessoa de muita paciência, muito amiga, a minha nora, que veio comigo, e graças a Deus, hoje eu consegui. Estou saindo daqui com a minha certidão, depois de vinte anos”.
Marco Antônio de Oliveira Gomes
“Eu vi a reportagem no jornal, eu vim aqui e já consegui tirar todos os meus documentos que eu tinha perdido. A única coisa que eu tenho que fazer agora é agradecer”.
Francisco das Chagas Silva foi atendido pela registradora Priscilla Milhomem, do 4º Registro Civil de Pessoas Naturais, que fica no Catete, zona Sul do Rio. Ele sabia todos os dados da sua certidão e do cartório
“Eu nasci em Teresina, Piauí. O meu registro está no livro 55 A, Folha 44, Termo 91665. Fui registrado no cartório Joaquim Dias de Santana. Eu sempre Gostei muito de números e de matemática, por isso consegui memorizar essas informações”.
Reginaldo Moraes Neri
“Tudo começa na certidão, é o primeiro documento que nós temos. Eu fiquei feliz pois eu estava com dificuldade de conseguir, pois eu não sou do Rio, sou de Vitória, aqui eles agilizaram esse processo, foi bastante rápido, pedi ontem e hoje a certidão já estava aqui, então eu estou feliz. Sei que como vai me ajudar, vai ajudar muito a outras pessoas também”.
Jaime Eduardo Ribeiro
“Vou voltar a ser cidadão de novo, estava na hora já. Com documento, agora eu sou cidadão brasileiro de novo”
Marcus Vinicius Coelho de Souza
“É muito importante, pois é necessário o cidadão ter a certidão de nascimento, sou um cidadão de rua, né, e havia perdido minha certidão. E de um dia pro outro eu consegui minha certidão. Só tenho a agradecer”.
João De La Cruz Lopes Netto
“Minha certidão que é lá do Rio Grande do Sul chegou em uma hora. Gradeço muito ao trabalho que vocês estão fazendo com essas pessoas em situação e rua. Que essas pessoas que estão aqui, que moram na rua possam ser tratadas como todo mundo, pois todo mundo é ser humano”.
Neílma da Cruz Silva – mãe de cinco filhos, ela deu a luz em um ônibus na Barra da Tijuca e foi personagem de matérias do G1 e da TV Globo por não ter documentos, assim como os cinco filhos, que nunca tinham tomado uma vacina e se quer frequentado a escola.
“Graças a Deus, agora, meus filhos estão na escola. Eu ainda preciso de ajuda, pois eu não sei, não tenho experiência com esse lugar, e o que eu quero com esse documento aqui, além de agradecer a todos que me ajudaram, a ONG e ao CRAS, é dar um futuro melhor para os meus filhos. Eu vivo de doação, ainda não tenho uma casa pra morar, eu vivo em um barraco. O que eu quero é que os meus filhos tenham direitos como seres humanos”.
Fonte: Assessoria de comunicação – Arpen/RJ